Inquisição no Brasil!
Há uma força predominante horrível em ocultar e perseguir o povo Ivrit (hebreu) e sua história...História de preconceito ódio e perseguição implacável! Vemos que esta história não aconteceu apenas nos países europeus, mas aqui no Brasil, muito próximo de nós, e quem sabe com os seus e os meus antecedentes...
Com a expulsão dos yahudim (judeus) da Espanha, em 1492, vieram de Sevilha para Portugal por terra, aqueles que não se curvaram ao "Santo Ofício" foram submetidos a humilhação e tortura inimagináveis e em inúmeros casos à morte, mas continuaram secretamente com a crença na Tanak, os anos passaram, sua história foi coberta pela obscuridade, mas nesse caminho deixaram suas marcas...
D. Manoel ordenou a conversão forçadas de todos os judeus ao catolicismo, depois ficou surpreso com o número de judeus que quiseram sair de Portugal, e com isso fechou os portos, e os yahudim ficaram em Portugal, e em suas casas, guardavam o shabat, e as moedim como a pessach, os jejuns no Yom Kippur etc...depois da sua morte e com a acensão de D. João III, havia rumores que havia prática de um "judaísmo secreto", este pediu autorização ao Papa para abrir um Tribunal, até que em 1536, depois de grandes lucros e presentes e heranças oferecidos à Cúria Romana, e este perdurou 285 anos e foi abolido apenas no século dezenove.
Nas portas das casas dos yahudim, havia sempre uma mezuzah, uma caixa tubular de madeira, vidro ou metal,contendo um pedaço pequeno de pergaminho, fazem parte do "Shemah" normalmente tem a letra shim gravada, ficavam do lado direito da entrada das casas dos judeus... Estes foram retirados e em seu lugar vemos as cruzes cristãs, nas residencias daqueles que foram obrigados a se converterem ao catolicismo. Muitas casas medievais situadas em antigas judarias possuem um pequeno rebaixamento ou fenda na ombreira da porta. A presença deste elemento permite deduzir que possa estar ligado dalgum jeito com a habitação judaica medieval.
D. Manoel tirou crianças dos seus pais yahudim (judeus), até 14 anos e deram para serem criadas por famílias católicas, D. João II fez muito pior ainda, arrancaram de suas famílias as crianças de 2 a 10 anos, mandando-as para a Ilha de São Tomé, onde eram exilados os criminosos, nessa ilha só haviam répteis e animais selvagens, Samuel Uskue, cronista do século 16, conta que muitas destas crianças foram comidas pelas feras, conta Anita Waingort Novinsky, historiadora brasileira, especializada na Inquisição Portuguesa.
D. Manoel ordenou a conversão forçadas de todos os judeus ao catolicismo, depois ficou surpreso com o número de judeus que quiseram sair de Portugal, e com isso fechou os portos, e os yahudim ficaram em Portugal, e em suas casas, guardavam o shabat, e as moedim como a pessach, os jejuns no Yom Kippur etc...depois da sua morte e com a acensão de D. João III, havia rumores que havia prática de um "judaísmo secreto", este pediu autorização ao Papa para abrir um Tribunal, até que em 1536, depois de grandes lucros e presentes e heranças oferecidos à Cúria Romana, e este perdurou 285 anos e foi abolido apenas no século dezenove.
Nas portas das casas dos yahudim, havia sempre uma mezuzah, uma caixa tubular de madeira, vidro ou metal,contendo um pedaço pequeno de pergaminho, fazem parte do "Shemah" normalmente tem a letra shim gravada, ficavam do lado direito da entrada das casas dos judeus... Estes foram retirados e em seu lugar vemos as cruzes cristãs, nas residencias daqueles que foram obrigados a se converterem ao catolicismo. Muitas casas medievais situadas em antigas judarias possuem um pequeno rebaixamento ou fenda na ombreira da porta. A presença deste elemento permite deduzir que possa estar ligado dalgum jeito com a habitação judaica medieval.
D. Manoel tirou crianças dos seus pais yahudim (judeus), até 14 anos e deram para serem criadas por famílias católicas, D. João II fez muito pior ainda, arrancaram de suas famílias as crianças de 2 a 10 anos, mandando-as para a Ilha de São Tomé, onde eram exilados os criminosos, nessa ilha só haviam répteis e animais selvagens, Samuel Uskue, cronista do século 16, conta que muitas destas crianças foram comidas pelas feras, conta Anita Waingort Novinsky, historiadora brasileira, especializada na Inquisição Portuguesa.
Entre a Cruz e a Espada
Usamos muito esta expressão, mas sem saber que história ela carrega. A cruz representa o catolicismo e a espada a morte, era as opções dadas aos judeus em Portugal, e sob as ameaças as mais terríveis, estes se convertiam de forma obrigatória, para preservar a vida e conservarem seus filhos junto de si.
Este símbolo adorna o Tribunal da Inquisição e o Palácio do Inquisidor, em frente ao Museu de Évora em Portugal. Quem aceitava a cruz, ganhava o ramo de oliveira e quem recusava morreria como herege...
Diante de tantas barbaridades, não é de admirar que isso acontecesse com frequência!
Colocaremos aqui, trechos de artigos sobre uma história Embora muitos desconheçam, a participação judaica esteve presente no Brasil desde o descobrimento. Entre os navegadores e marinheiros que avistaram as terras brasílicas encontravam-se alguns cristãos-novos, antigos judeus convertidos ao catolicismo. O primeiro de que se tem notícia é Gaspar da Gama, originário de Alexandria, que fizera a viagem de Cabral, mas é provável que não fosse o único.
A história dos judeus sefarditas (originários da
Península Ibérica) data da Antiguidade. Em Portugal, os primeiros indícios
desta presença remontam ao século VI da Era Cristã. Apesar de problemas
pontuais, estavam integrados a essa sociedade, onde encontravam melhores
condições de vida. Muitos desses judeus ocupavam cargos públicos, tinham
negócios e auxiliavam no desenvolvimento da ciência. Em terras portuguesas,
celebravam suas festas e ritos livremente e contavam até com a simpatia de
alguns monarcas. Tinham um tratamento muito diferente do que recebiam em outras
partes da Europa, onde eram perseguidos, sendo expulsos ou banidos de
importantes centros como Viena (1421), Colônia (1424), Augsburgo (1439),
Baviera (1442), Morávia (1454), Perugia (1485), Vicenza (1486), Parma (1488),
Milão (1489) e Florença (1494).
Repetindo o que ocorrera em 1492 na vizinha Espanha, em 1496 D. Manuel (1495-1521) decretou a expulsão dos judeus do reino. Mas, ciente da importância dos cristãos-novos para os interesses lusos, apesar de expulsos, o monarca os proibiria de deixar o reino, ou seja, seriam obrigados a se converter ao cristianismo e transformados em cristãos. Mas seriam cristãos-novos, diferentes dos cristãos de origem, denominados cristãos-velhos. Muitos desses cristãos-novos, embora publicamente fingissem fidelidade à nova religião, não abandonavam sua fé. A suspeita generalizada de que judaizavam em segredo (criptojudaísmo), ameaçando a pureza católica, funcionaria como um dos pretextos para a instauração do Santo Ofício em Portugal no ano de 1536, tornando os cristãos-novos suas vítimas preferenciais. Acirravam-se, assim, as desconfianças sobre os recém-convertidos, que buscavam locais onde pudessem viver longe das pressões sociais e da Inquisição. Eles tiveram, então, que se espalhar pela Europa, pelo Norte da África, por Angola, Índia, China, Indonésia e Japão. No entanto, mantinham as ligações com a metrópole por meio das redes sociais e de comércio...esses cristãos-novos foram fundamentais para os esforços de expansão portuguesa. Muitos dos navegadores e comerciantes que estiveram presentes na estrutura expansionista eram de origem sefardita. Homens de trato, comunicavam-se em latim, português, espanhol, hebraico – sendo, por vezes, letrados em algumas delas – e, não raro, nas línguas dos locais por onde passavam, num tempo em que a maioria das pessoas não dominava a escrita... Eles financiaram as viagens de conquista, colaborando com o conhecimento técnico necessário à construção de embarcações ou à utilização de instrumentos de navegação mais apurados. Atuaram como cartógrafos, negociantes, funcionários da burocracia, ajudaram com capital ou até como religiosos, nas atividades de catequese cristã nos domínios portugueses...
O Brasil foi um dos destinos preferidos desses
homens. Já em 1503, um consórcio formado por comerciantes cristãos-novos, sob o
comando de Fernando de Noronha, arrendou à Coroa portuguesa o monopólio de
exploração do pau-brasil, do comércio de escravos e de outras mercadorias por
cerca de dez anos, sob a condição de manterem fortificações no território e de
descobrirem novas terras.
A proximidade temporal entre a instauração da
Inquisição no reino e o processo efetivo de colonização da América portuguesa a
partir da década de 1530 contribuiu para que muitos cristãos-novos que se
sentiam ameaçados em Portugal decidissem atravessar o Atlântico em direção ao
Brasil, onde participavam da organização política e social existente. Também a
falta de um tribunal inquisitorial estabelecido e o crescimento da economia
açucareira permitiram que muitos se tornassem senhores de engenho, responsáveis
pela plantação, produção, pelo comércio e distribuição do principal produto
colonial. Em fins do século XVI, os cristãos-novos já eram donos de boa parcela
dos engenhos existentes no Nordeste e ameaçavam os interesses dos
cristãos-velhos, incomodados com a concorrência.
As acusações apresentavam um rol extenso e variado
de comportamentos vistos como denunciadores da ocorrência do criptojudaísmo
vivenciado na Colônia, tais como usar roupas limpas e arrumar a casa às
sextas-feiras em respeito ao Shabat; não pronunciar o nome de Cristo; preparar
a comida segundo a tradição hebraica, não ingerindo carne de porco ou peixes
sem escamas, entre muitas outras práticas. Algumas denúncias davam conta,
inclusive, da existência de sinanagogas clandestinas que funcionaram por mais
de três décadas, servindo de ponto de encontro dos criptojudeus da Colônia – em
Camaragibe, Pernambuco, e em Matoim, na Bahia.
Com a necessidade de ocultar os costumes judaicos,
os lares viraram os locais de resistência por excelência, onde as tradições
eram praticadas em família. Nesse contexto, pode-se dizer que o papel feminino
tinha destaque. As mulheres exerciam as funções de mãe, professora e rabi,
repetindo as histórias do povo hebreu, a prática das orações e dos jejuns, o
respeito aos antepassados, orientando as primeiras leituras e advertindo sobre
o perigo da Inquisição. Realizavam o judaísmo oculto, adaptado e possível que
permitiu sua sobrevivência em tempos de perseguição.
Por sinal, a primeira vítima do Brasil condenada à
fogueira pela Inquisição foi uma mulher: a cristã-nova Ana Rodrigues,
octogenária acusada de liderar uma família de judaizantes na Bahia, das mais
denunciadas durante a primeira visitação. Presa e enviada para Lisboa, morreu
no cárcere, mas seu processo continuou. Acabou sendo considerada culpada mais
de dez anos depois de sua morte. Seus ossos foram desenterrados e queimados:
sinal de que a Inquisição estava de olhos atentos ao que acontecia sob o céu
dos trópicos.
* Angelo Adriano Faria de Assis é professor da
Universidade Federal de Viçosa e autor da tese “Macabéias da Colônia:
Criptojudaísmo feminino na Bahia – Séculos XVI-XVII” (UFF, 2004).
“Em 5 de fevereiro de 1638, Manuel Mendes de
Castro, cristão-novo natural de Portugal, também chamado de Manuel Nehemias,
chega ao Recife desejando criar uma colônia agrícola com 200 judeus, “entre
ricos e pobres”, no Nordeste do Brasil. Seus planos não deram certo, conforme
cartas do conde João Maurício de Nassau ao Alto Conselho, datadas de 19 de
março e 23 de maio do mesmo ano, nas quais observa que “em vez de se
encaminharem para o seu destino, aqui se dispersaram e cada um tomou o seu
caminho tendo falecido o chefe”.
Em 1635, com o domínio holandês consolidado na
região, muitos judeus atravessaram o Atlântico para viver em Pernambuco...Na
capital de Pernambuco, a velha Rua dos Judeus, agora Rua do Bom Jesus,
continuou guardando as memórias daqueles pioneiros. Desde 4 de setembro de
1998, os prédios de número 197 e 203 foram transformados, por um decreto do
prefeito Roberto Magalhães Melo, em imóveis de utilidade pública. E voltaram a
abrigar o Arquivo Judaico e a antiga sinagoga Zur Israel”.
** Leonardo Dantas Silva é membro do Instituto
Histórico e Geográfico Brasileiro, consultor do Instituto Ricardo Brennand e
autor do livro Holandeses em Pernambuco – 1630-1654 (Recife: Instituto Ricardo
Brennand, 2005).
O Tribunal do Santo Ofício deixou
de vigorar, oficialmente no Reino de Portugal em 31 de março de 1821. Funcionou
por 285 anos. Aceitava denúncias de pessoas desconhecidas e a sua confissão
podia ser obtida por meios de tortura física ou mental.
Depois, funcionou como parte da
Cúria Romana, mas recebeu um novo nome. Em 1904, esse tribunal passou a ser
chamado de Suprema Sagrada Congregação do Santo Ofício. Em 1965, tornou-se a
Congregação para a Doutrina da Fé.
A Inquisição organizava os
auto-de-fé, rituais de penitência pública para aqueles considerados hereges por
inquisidores da igreja. Foi responsável pela deportação, sentença e morte de
centenas de judeus.
No Brasil “A Santa-Inquisição” nunca instalou um tribunal permanente, mas a sua ação se exerceu através de visitadores, Heitor furtado de Mendonça entre 1591-1595. E Marcos Teixeira entre 1618-19. Ou de bispos a quem eram delegados poderes para efetuar prisões, confiscar bens, e enviar para Lisboa os prisioneiros para serem julgados.
O
descobrimento do Brasil em 1500 veio a ensejar uma nova oportunidade para esse
povo sofrido. Já em 1503 milhares de “cristãos-novos” vieram para o Brasil
auxiliar na colonização. Em 1531, Portugal obteve de Roma a indicação de um
Inquisidor Oficial para o Reino, e em 1540, Lisboa promulgou seu primeiro
Auto-de-fé. Daí em diante o Brasil passou a ser terra de exílio, para onde eram
transportados todos os réus de crimes comuns, bem como judaizantes, ou seja,
aqueles que se diziam aparentemente cristãos-novos, porém, continuavam em
secreto a professar a fé judaica. E é nesses judaizantes portugueses que vieram
para o Brasil nessa época que queremos concentrar nossa atenção.
De uma simples terra de exílio a situação evoluiu e o Brasil
passou a ser visto como colônia. Em 1591 um oficial da Inquisição era designado
para a Bahia, então capital do Brasil. Não demorou muito, já em 1624, a Santa
Inquisição de Lisboa processava pela primeira vez contra 25 judaizantes
brasileiros (os nomes abaixo foram extraídos dos arquivos da Inquisição da
Torre do Tombo, em Lisboa).
OS 25 ACUSADOS
Alcoforada, Ana 11618
Antunes, Heitor 4309
Antunes, Beatriz 1276
Costa, Ana da 11116
Dias, Manoel Espinosa 3508
Duarte, Paula 3299
Gonçalves, Diogo Laso 1273
Favella, Catarina 2304
Fernandes, Beatriz 4580
Lopes, Diogo 4503
Franco, Lopes Matheus 3504
Lopes, Guiomar 1273
Mendes, Henrique 4305
Miranda, Antônio de 5002
Nunes, João 12464
Rois, Ana 12142
Souza, João Pereira de 16902
Teixeira, Bento 5206
Teixeira, Diogo 5724
Souza, Beatriz de 4273
Souza, João Pereira de 16902
Souza, Jorge de 2552
Ulhoa, André Lopes 5391
Os nomes dos judaizantes e os números dos seus respectivos dossiês
foram extraídos do Livro: “Os Judeus no Brasil Colonial” de Arnold Wiznitzer –
página 35 – Pioneira Editora da Universidade de São Paulo.
A Bahia foi o palco das inquirições mais intensas;
de 1591 a 1624 foram processados ali, 245 pessoas acusadas de
judaísmo. Em 1646 mais 100 condenações foram feitas.
E no auto de fé em 1771, 52 brasileiros foram
“justiçados” O último brasileiro condenado à morte pela “santa
inquisição”, morreu no auto de fé de 1748; Almanaque Abril Cultural de
1983 pg 617.
Um dos casos mais celebre sobre hereges no
Brasil, foi o de Ana Costa Arruda, era natural de Olinda
Pernambuco. Ana foi acusada o segundo dia de janeiro de 1599,
por sua tia Beatriz Fernandes, que sob tortura a denunciou de
praticar heresia. Em 16-12-1599, Ana é encarcerada em Lisboa com 24 anos
de idade. Subiu ao primeiro interrogatório em 7-4-1600.
E saiu no auto-de-fé celebrado na Ribeira, em
Lisboa no Domingo dia 3-8-1603, e foi condenada a se retratar da
acusação e depois encarcerada nas Escolas Gerais, para submeter-se, à doutrinação.
Em 6-9-1603. Não se sabe se Ana voltou ao Brasil.
"A Inquisição-Ibérica-"
No período 1723-1748 foram presos cerca de 20 Cristãos Novos
moradores em diferentes regiões do que hoje seria Minas Gerais - de Ouro Preto
a Paracatu, mas também foram até as minas de Goiás. Deste grupo foram
executados cinco (27.7% do total). Alguns eram recém-chegados do Reino,
atraídos pelas notícias da descoberta do ouro e originários da Beira Baixa
(onde até o início do século XX existiram núcleos de cripto-judeus). Da terra
trouxeram um judaísmo bastante coeso e mantiveram-se conectados com outros
núcleos de judaizantes no Brasil. Razão pela qual foram enredados
principalmente pelas denúncias vindas de fora do seu meio imediato.
Dois Cristãos Novos moradores em S. Paulo foram executados em
Lisboa: Theotonio da Costa, em 1686, denunciado em Lisboa por parentes (inclusive
o seu pai) e Miguel de Mendonça Valladolid, preso em 1728 por denúncias de
parentes e amigos na Bahia. Teve uma formação judaica na França e em Amsterdã
onde foi circuncidado. Voltou a Portugal e de lá veio para a Bahia percorrendo
o país em viagens de negócio. Foi executado em 1731.
O fim da distinção entre Cristãos Velhos e Cristãos Novos
decretada pelo Marques de Pombal em 1773 antecipa em quase 50 anos a
desativação formal do Santo Ofício. Sem Inquisição, desapareceram os documentos
e sem estes interrompe-se a história dos judeus no Brasil.
Historiador reconstrói 300 anos de perseguição a judeus em
São Paulo
Quando se fala em Inquisição, a imagem mais genérica que surge é a
de um brutal tribunal instalado numa longínqua Europa medieval, mandando queimar
feiticeiras e punindo hereges, mais ou menos como em “O Nome da Rosa”, filme de
1986 baseado na obra de Umberto Eco.
“Cristãos-Novos em São Paulo”, do historiador Marcelo Meira Amaral
Bogaciovas, mostra, porém, que essa sombria realidade fez parte, por muito
tempo, da história de São Paulo –mais precisamente entre 1536 e 1821.
Num minucioso levantamento genealógico e estudo de outros
documentos de época, o livro mapeia a trajetória de famílias de cristãos-novos
(judeus forçados à conversão) perseguidas e descreve o comportamento do
tribunal com relação aos condenados.
“A atuação da Inquisição em São Paulo deixou sequelas até os dias
de hoje. As pessoas em geral ainda se sentem ultrajadas ao serem chamadas de
‘cristãs-novas’. Isso porque, na época, criou-se um ambiente de constante temor
à punição, de delação e vigilância, parecido com o de uma ditadura”, diz o
historiador, em entrevista à Folha.
Livro do séc. 18 no acervo da sinagoga Kehilah Israel, em SP
O livro reconstrói o início desse processo, quando os reis
católicos espanhóis, em 1492, obrigaram judeus que não queriam se converter a
deixar o país. Portugal primeiro acolheu essa população, mas, em 1497, impôs o
batismo forçado. Muitos decidiram vir ao Novo Mundo e, apesar de atuarem como
cristãos fora de casa, do lado de dentro seguiam com seus ritos e costumes.
Além da constante ameaça de serem acusados de “práticas
judaizantes”, no Brasil os cristãos-novos tinham de pagar impostos exclusivos e
estavam afastados de certos cargos públicos.
“A Inquisição atuou no Brasil como em outros lugares, como uma
‘joint venture’ entre Igreja e Estado –quem acompanhava os condenados de São
Paulo até serem embarcados para Lisboa eram os jesuítas”, afirma o historiador.
Era comum, também, que fossem presos e enviados a Portugal os
acusados de bigamia. “Nesse sentido, a correspondência entre parentes ajudava
muito. Era um universo menor de gente. Naquela época, dificilmente seria
possível alguém mudar de país e ficar anônimo. Casamentos, encontros, trocas de
parceiros eram noticiados entre os parentes. E a Inquisição vigiava tudo isso.”
Uma vez presos em São Paulo, os acusados pelo tribunal eram
embarcados com destino a Lisboa, onde ocorriam os interrogatórios, muitos sob
tortura. “Faziam com que falassem do modo mais cruel possível, pois não diziam
de que estavam sendo acusados. Esperavam meses até que a pessoa se delatasse e
passasse a apontar parentes.”
Segundo Amaral, cerca de 2.000 pessoas foram detidas no Brasil e
enviadas a Lisboa. Quem não morria devido às torturas ou punições era
abandonado à sua sorte na capital portuguesa. “Ficavam pelas ruas –muitos
enlouqueciam, outros viravam pedintes.”
O trabalho foi inicialmente apresentado como tese de mestrado na
Universidade de São Paulo, com orientação da professora Anita Novinsky. Agora,
surge em versão para o mercado, com apresentação da historiadora Mary Del
Priore.
Fonte: Folha.
Ação da Inquisição Portuguesa no Brasil
Quadro - Inquisição Galileu Galilei |
A intensa ação inquisitorial na Península Ibérica levou grande
número de suspeitos cristãos novos a buscar refúgio na América colonial. Pouco
tempo bastou para que três tribunais religiosos fossem instalados: na cidade de
Lima (Peru, 1570); México (1571) e, em Cartagena de las Índias (Colômbia,
1610).
Inquisição matou um alagoano Fernando Henrique Alvares, morador no
termo da Vila de Penedo, foi levado a Lisboa em 1733 e queimado num Auto de Fé Publicado em 28 de novembro de 2015 por Ticianeli em Eventos, Religiões //
2 comentários
Em 1991, o antropólogo, historiador e pesquisador
paulista Luiz Mott esteve em Maceió participando de um ciclo de
conferências organizado pela UFAL, que teve a coordenação dos
professores Douglas Apratto e Fernando Lobo. Com mestrado em
Etnologia em Sorbonne e doutorado em Antropologia pela Unicamp, Mott era, na
época, professor titular do Departamento de Antropologia da Universidade
Federal da Bahia, UFBA.
No dia 6 de junho de 1991, apresentou um estudo inédito revelando
a presença da Inquisição nas terras de Alagoas. Até então nenhum historiador
havia feito referência à presença do “Monstro Sagrado” por estas terras.
Antropólogo, historiador e pesquisador, Luiz Mott Inquisição atuou em Alagoas |
A pesquisa realizada na Torre do Tombo, em Lisboa, confirmou que
uma dezena de luso-brasileiros residentes em Alagoas foram atingidos
pelo Santo Ofício. Quatro foram presos e trancafiados nos cárceres
inquisitoriais, e um deles, o cristão-novo Fernando Henrique Alvares, morador
no termo da Vila de Penedo, foi o único a ser queimado num Auto de Fé
realizado em Lisboa no ano 1733. Mott avalia que as invasões holandesas e
a guerra dos Palmares explicam a fraca e tardia atuação inquisitorial no
território alagoano.
O Tribunal do Santo Ofício em Portugal foi instalado em
1536 e teve a atribuição de perseguir os desvios na fé, punindo heresias,
judaísmo, protestantismo, feitiçarias, blasfêmias, e também algumas práticas
sexuais consideradas criminosas como homossexualismo, bigamia e a
solicitação feita pelo sacerdote no confessionário.
Como no
Brasil não existia um tribunal autônomo, os colonos da América Portuguesa eram
levados para o Tribunal de Lisboa. Uma complexa rede de espiões, que
envolvia os Familiares e Comissários do Santo Ofício, ficava encarregada de
denunciar os réus. Eles podiam delatar, prender, sequestrar e enviar para
o Tribunal os suspeitos de praticarem as citadas heterodoxias.
Na documentação do Tribunal da Fé a primeira citação de
Alagoas está datada de 1678, quando o Licenciado Padre Antônio Correia da Paz,
morador na Vila de Santa Maria Madalena da Alagoa do Sul é empossado no cargo
de Comissário do Santo Ofício. A última citação acontece em 1811, quando o
Padre Lourenço Pereira de Carvalho Gama, coadjutor na Freguesia de São Miguel,
tem seu nome aprovado para a função comissarial. O Tribunal da Fé foi extinto
em 1821.
Judeu errante nas Alagoas - Na lista dos 18 cristãos-novos residentes no Brasil queimados pela
Inquisição portuguesa, entre 1644 e 1748, um deles residia no termo da vila de
Penedo, na margem esquerda do rio São Francisco. Trata-se de Fernando
Henriques Alvares.
Era reinol, natural da Vila de Moura, no Bispado de Braga.
Tinha 37 anos ao ser preso, no ano de 1732. Era casado com Ana Rodrigues de Figueiredo,
da qual tinha um filho de nome José, declarando “não ter filho nem filha fora
do matrimônio”.
Herdou a mesma ocupação de seu finado pai, comerciante. Vivia
então no Engenho de São José, no distrito de Penedo, sustentando-se com
sua roça de mandioca e comércio de animais. Ao ser preso teve seus bens
sequestrados, conforme determinava o Regimento para os praticantes do judaísmo.
Seu nome e fama de praticar rituais judaicos chegou à
Inquisição lisboeta depois que vários cristãos-novos foram presos na Paraíba,
alguns anos antes. Sua ordem de detenção é de 5 de julho de 1730, sendo
entregue nos Estaus do Santo Ofício em 29 de julho de 1732 — os agentes
inquisitoriais custaram encontrá-lo, pois há anos ausentara-se da Paraíba sem
que seus conhecidos soubessem o paradeiro.
Ao ser investigada sua crença, declarou que no tempo que estivera
apartado da fé cristã, deixara de acreditar na Santíssima Trindade e nos
Sacramentos, embora continuasse a praticar as obras de cristão, porém só de
fachada, para não despertar suspeita de que era filho de Israel.
Confrontadas as inúmeras acusações de seus cúmplices com suas
reduzidas confissões, consideraram os juízes inquisitoriais, assim como o
Conselho Geral, que o réu manifestava “malícia, fingimento, diminuição, sendo
herege impenitente, apóstata, ficto, falso e simulado”, motivo suficiente, de
acordo com o Regimento do Santo Ofício, para condená-lo à pena de morte.
Aos 6 de setembro de 1733 o réu tem suas mãos atadas, sendo
avisado que ia ser queimado e que tratasse de descarregar sua
consciência do que omitira na confissão. Na porta de seu cárcere o jesuíta
Padre Jacinto da Costa ficou à disposição para o caso de solicitar a
absolvição. Tudo faz crer que recusou reconciliar-se com a fé católica.
Fernando Henrique Alvares foi sentenciado no Auto de Fé realizado
na Igreja de São Domingos de Lisboa, aos 20 de setembro de 1733, estando
presente del Rei D. João V, o Príncipe D. José e outros infantes reais.
Agentes da inquisição em Alagoas
Não existindo Tribunal da Inquisição no Brasil, cabia
aos Comissários e Familiares do Santo Ofício a importante e
temida função de denunciar, fazer inquéritos, sequestrar, prender e
remeter para Lisboa os réus de delitos religiosos ou sexuais pertencentes à alçada
inquisitorial.
Foram um total de nove agentes inquisitórias residentes
nas Alagoas, a saber, quatro Familiares: Antônio Araújo Barbosa, Antônio
Joaquim Lamenha, Gonçalo Lemos Barbosa, João de Basto, além de cinco
Comissários: Agostinho Rabelo de Almeida, Antônio Correia da Paz, Domingos Araújo
Lima, Gabriel José Pereira de Sampaio e Lourenço Pereira de Carvalho Gama.
Salvo erro, o mais antigo funcionário inquisitorial a
atual em Alagoas foi o Padre Antônio Correia da Paz, natural e morador na vila
da Madalena, cuja confirmação como Comissário do Santo Ofício traz a data 1678,
dois anos após o início da campanha contra o Quilombo de Palmares.
Igualmente como ocorria na Espanha e Portugal, também no Brasil
encontramos diversas famílias em que mais de um membro obteve o privilégio de
ser habilitado pelo Santo Ofício. Fenômeno que nas Alagoas teve início com este
primeiro Comissário, pois alguns anos mais tarde, em 1696, Antônio de Araújo
Barbosa recebe a venera de Familiar, sendo casado com Mariana Araújo, irmã
inteira do citado Comissário Correia da Paz.
Este novo Familiar era português, natural de Santo
Estêvão da Facha, Bispado de Braga, e como seu cunhado licenciado, também
morava na vila de Santa Maria Madalena. Assim sendo, nos finais do século XVII
existiam quando menos dois espiões inquisitoriais em Alagoas, parentes entre si
e residentes na mesma freguesia.
Um terceiro membro deste clã a ser igualmente agraciado com
o Comissariato foi o Padre Agostinho Rabelo de Almeida, que recebe a
comenda de Comissário do Santo Ofício em 23 de maio de 1766. Era o terceiro
membro de sua família a ser habilitado nas Alagoas.
Os últimos funcionários inquisitoriais a atuar na Comarca foram
habilitados quando o Monstro Sagrado entrava em mortal agonia, em 1808 recebe a
comenda de Comissário o padre Gabriel José Pereira de Sampaio, natural da
Bahia e morador em Penedo, onde exercia a função de Professor Régio de
Latinidade.
Dois anos depois, em 1810, é a vez do negociante lusitano João de
Basto, morador na vila das Alagoas, ser nomeado Familiar do Santo Oficio. O
derradeiro alagoano a ter seu nome aprovado pela Inquisição foi o padre
Lourenço Pereira de Carvalho Gama, natural da vila de Alagoas e coadjutor na
freguesia de São Miguel. Foi habilitado em 1811 e provavelmente não chegou a
receber nenhuma missão por parte dos inquisidores, pois já em 1821 é enterrado
este Monstro Sagrado que por quase três séculos atanazou a vida de nossos
antepassados.
Fonte: Revista Debates de História Regional, nº 01, de 1992,
editada pelo Departamento de História da Universidade Federal de Alagoas.
Pesquisado por Ivonil Ferreira de Carvalho
Diná Soares
Diná Soares
https://genealogiafb.blogspot.com/2015/06/tribunal-do-santo-oficio-processos.html
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